Opinião

O Tango del Bufón

Por Pedro E. Almeida da Silva
Professor titular da Furg

O "bufão" ou "bufón", em espanhol, é um personagem tradicional da commedia dell'arte, um tipo do teatro popular italiano que surgiu no século 16. Esta figura cômica, em geral, mentirosa e ridícula, costuma ter uma visão precária sobre os diversos aspectos que envolvem a vida humana, sejam eles individuais ou coletivos. Há três anos, Trump, um típico bufão, foi eleito presidente dos EUA. Sua passagem foi marcada por discursos fascistas, práticas discriminatórias e uma política internacional desastrosa. Segundo o filósofo Noam Chomsky: em 350 anos de história a democracia norte-americana nunca esteve tão ameaçada quanto na época de Trump. Ao final do mandato, o mega sonegador de esvoaçante cabeleira dourada confirmou a previsão de Chomsky e incentivou uma falange de criminosos a invadir o congresso americano atentando contra a democracia e a vida; hoje ele responde nos tribunais por esses e outros crimes.

Aqui, também temos tido os nossos bufões, desde o caçador de marajás que acabou sendo caçado, até o mais recente truão que achou graça das pessoas morrendo com falta de ar durante a pandemia, por culpa de seu general assistente, outro bufo, gênio da logística sem lógica, cujo ministério confundiu Amapá com Amazonas. Caçado pelo voto popular e inelegível pelos próximos anos, o bufão, fugidio e de pretensões ditatoriais, deverá, a exemplo do seu amigo do Norte, ser processado pelo envolvimento em crimes diversos, desde pequenas pilhagens até delinquências maiores, como o incentivo aos ataques contra a democracia e à segurança nacional.

Agora chegou a vez da Argentina ter o seu bufão. As primeiras manifestações do recém-eleito saltimbanco são confusas e muitas se contrapõem radicalmente aos inflamados discursos realizados durante a campanha eleitoral. Aguardemos para ver quais promessas serão efetivadas e quais eram apenas bazófias do caricato clonador de cães. A eleição do anarcocapitalista e dublê de um Elvis decadente é o resultado de uma combinação de fatores que inclui uma economia agonizante, um setor industrial sucateado, uma sociedade assustada pela inflação e desemprego, o desencanto com o velho modelo peronista de governar (de Menen a Kirchners), da ineficácia de sindicatos obsoletos e uma oportunista manipulação de tudo isso por uma casta conservadora formada por empresários, banqueiros, ruralistas e simpatizantes da ditadura.

Lá, como aqui, os ultraconservadores, não tendo propostas políticas consistentes, coerentes e, principalmente, votos suficientes para se elegerem, tentam chegar ao poder por meio de golpes de Estado ou via "outsiders" caricatos e populistas que lhes prestam serviços. Enfim, como escreveu recentemente Aquiles Lins no 247: "É preciso dar tempo ao novo presidente eleito e ver como a população argentina irá se comportar quando sentir na pele a piora das condições de vida. Como o Brasil de Bolsonaro demonstrou, o ultraliberalismo e o fascismo internacionais não têm nada de positivo para oferecer".


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